
BRUNA KURY E GIL PORTO PYRATA

Bruna Kury e Gil Porto Pyrata
Gentrificação dos afetos, 2021
Vídeo-performance
Filmagem Noah Mancini
Bruna Kury
Caixa para cabeça, 2021
acrílico, microfones de contato e luvas
Confecção: Zang Gasparello e Gil Porto Pyrata
Para a exposição Dizer Não, Bruna Kury e Gil Porto Pyrata exibiram a videoperformance Gentrificação dos Afetos, preambular ao longa-metragem de título homônimo. No curta, entre trechos do processo de elaboração da caixa para cabeça, por Gil, e o movimento sonorificado de transeuntes, a recusa de inércia/subordinação às normatizações sociais eurocêntricas de perímetros urbanos é evidente na interposição de esculturas – busto de Afonso Taunay (Claude Dunin); A Menina e o Bezerro (Luís Christophe); herma de Luiz Gama (Yolando Mallozzi); Depois do Banho (Victor Brecheret) – posicionadas em praça pública, com seguridade garantida pela polícia, coabitantes com corpas abjetificadas, como o são as de gente marcada socialmente como diferente e das baratas.
Trajada com a caixa que continha as baratas, sutiã, calcinha, colar e botas, a performer intervém, à luz do dia, caminhando e posando no Largo do Arouche, localizado na região central da cidade de São Paulo. Suas imediações, nos últimos 50 anos, já sediaram produtoras de cinema marginal e seguem como um conglomerado de restaurantes e boates, além do mercado de flores – para ficar nos três pontos mais repetidos nos discursos turísticos que muitas vezes justificam-ocasionam processos de gentrificação nas cidades do mundo cishetero-patriarcal-capitalista.
Recentemente (2016), o Arouche foi destacado pelo governo municipal, em virtude da frequência/presença de pessoas LGBTQIA+, por meio de bandeiras arco-íris, prometidas para longa duração, que logo foram removidas e não mais repostas. Significativo gesto que assinala a continuidade das condições de desigualdade radical do ecossistema social da nação, que conduzem, sobretudo, travestis e mulheres trans negras a se prostituir noites adentro no largo.
Três sentenças instigam, junto com a ausência de discursos falados, a montagem do vídeo: “A colonialidade sustenta-se em ficções de raça e gênero”; “Disforia de gênero humano”; “Diz-se que a barata é o único animal que não é de deus”. Essas frases, posicionandas no sentido das construções de afeto e relações, traduzidas também como pertencimento à fruição da cidade e à cidadania, e levando em conta que pessoas de origem latina, nos Estados Unidos da América [do Norte], são injuriadas como cucarachas – baratas, em espanhol –, resultam em disparadores cruciais para a revisão da atualização das lógicas higienistas, propagadas como ciência médica no século XIX e XX, que regem os imaginários sobre quem não está em conformidade com os roteiros da geopolítica das explorações/opressões correntes disfarçadas de objetivos para o bem comum.
Bruna Kury e Gil Porto Pyrata
Bruna Kury
1987, Brasil
Vive e trabalha em São Paulo, SP.
Anarcotransfeminista, performer, artista visual e sonora. Focada em criações atravessadas por questões de gênero, classe e raça (contra o cis-tema patriarcal heteronormativo compulsório vigente e a opressões estruturais-GUERRA de classes).
Site: https://brunakury.weebly.com
Gil Porto Pyrata
1989, Brasil
Vive e trabalha em São Paulo, SP.
É uma pessoa transmasculina não binária. Performer, artista multimídia e arte-educador, desenvolve desde 2018, com Bruna Kury, uma pesquisa chamada Pospornô Sonora. Trabalha as relações entre linguagens e o corpo enquanto memória e ruína de si mesmo.